terça-feira, 11 de setembro de 2018

Traições!? ...experimente julgar... Episódio 4/4


Caso 4/4

A notícia foi simplesmente devastadora para Cristina!

Não podia acreditar no que estava ouvindo de uma velha amiga:

 " ... Cris, sabe o Rodolfo? Não resistiu a um infarto fulminante e morreu na semana passada. Estava na fazenda da família e não deu tempo nem de chegar ao hospital ".

Rodolfo foi a paixão platônica desde a infância e por toda a vida de Cristina. Sua simples existência a fazia acreditar na vida, no amor e até no sentido maior  da existência.

Parece demais, não? Ainda mais nos dias que correm...

Mas para Cristina, uma senhorinha de 75 anos que havia se traído a vida toda, era exatamente assim!

Nascida numa pequena cidade do interior do Espírito Santo, numa família tradicional e puritana, Cristina foi a penúltima filha entre 9 irmãos. Nunca se sentia vista, amada nem valorizada nas suas ligações parentais.

A única conexão afetiva mais forte de Cristina era com a sua avó materna, cuja morte precoce lhe trouxe um sentimento profundo de desamparo existencial e aumento do desamor próprio.

Sempre muito carente, física e emocionalmente, a ponto de ter sufocado em segredo por toda a sua vida um desmesurado amor por Rodolfo a partir do fatídico dia em que o seu pai decretou quase aos gritos : "esse cabloco não é pra você e não o quero nem perto da família. Pare com esse seu jeitinho de moça-puta".

Isso porque havia sido flagrada duas vezes conversando furtivamente com Rodolfo após a missa dominical.

Imagine se o seu pai soubesse que eles tinham algumas vezes se encontrado às escondidas, arriscando beijos e abraços com direito a juras de amor eterno?

Um encontro de almas gêmeas, assim ela acreditava!

Pronto, a obediência cega àquele mandamento paterno e aos desdobramentos que se sucederam nortearam toda a vida de Cristina:  "não às intuições, não aos desejos, não aos sonhos, não às oportunidade, não às transgressões".

Foi a sua primeira e mais séria traição!

TRAIÇÃO à própria alma, uma traição maiúscula que fundamentou os alicerces de submissão e negação aos seus principais anseios por toda a vida.

Bem verdade que se casou -- diga-se de passagem, por conveniência e com um homem mais velho referenciado pela família -- teve 7 filhos e seguiu a tradição familiar de boa mãe e esposa submissa.

Uma sucessão de traições!

Rodolfo também se casou mas isso surpreendentemente não lhe trouxe ciúmes ou tristeza. Ele continuava a ser o arquétipo do amor verdadeiro, do encontro espiritual que não chegara a ter mas que povoava sua imaginação.

Buscou viver com a harmonia possível numa vida sem prazeres e emoções, mantendo por décadas o seu segredo de "amante secreta" do Rodolfo.

Mas durante anos a simples lembrança da existência de Rodolfo a ligava com a remota possibilidade de acreditar que existia vida em plenitude.  Por vezes, ao retornar de férias à sua cidade, via o Rodolfo de longe e trocavam rápidos e comprometedores olhares, mas suficientes para manter a chama amorosa acesa.

Um dia, quem sabe?

Mas, agora, com a notícia da morte de Rodolfo, Cristina não resistiu...

Chorou copiosamente e pela primeira vez revelou a alguém toda a sua história de renúncias e submissão. A amiga ficou estarrecida, ofereceu o ombro compassivo mas não conseguiu nada verbalizar.

Quando Cristina finalmente voltou para casa, triste e desalentada, deu uma resposta evasiva quando inquirida pela sua cara de choro.

E continuou a se trair...

"Acho que foi melhor assim", racionalizou!





☆ Baseado em histórias reais com recheios de ficção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário