domingo, 1 de maio de 2016

Fim das ilusões?


Fim das ilusões ou... enfim, a maturidade emocional!

Poucos livros me impactaram tanto quanto o "A passagem do meio", de
James Hollis.

A cada releitura cai mais uma ficha e descubro áreas cinzentas que ainda insisto em tegiversar.

Este Post apresenta um apanhado-resumo da obra (sob o meu olhar) que talvez possa  facilitar reflexões individuais. Coragem!

Vamos lá.

" A experiência da passagem do meio não é diferente de acordar e descobrir que estamos sozinhos, balançando num navio, sem nenhum porto à vista. Nossas únicas opções são voltar a dormir, pular do navio ou agarrar o leme e seguir viagem.

No momento da decisão, a grande aventura da alma nunca está mais clara. Ao agarrarmos o leme, assumimos a responsabilidade pela jornada, por mais assustadora que ela possa ser, por mais solitária ou injusta que possa parecer. Quando não agarramos o leme,  permanecemos presos na primeira idade adulta, preso nas aversões neuróticas que constituem a nossa personalidade atuante e, por conseguinte, a separação de nós mesmos.
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A tarefa é assustadora, pois precisamos primeiro reconhecer que não existe salvação, nem pais que fazem tudo melhor e nenhuma maneira de voltar a uma época anterior... Debaixo dos sintomas que caracterizam a passagem do meio está a suposição de que seremos salvos encontrando e nos ligando a alguém ou a algo no mundo exterior... A verdade é simplesmente que aquilo que devemos saber virá de dentro de nós mesmos.
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Uma pessoa que passa por essa experiência frequentemente entrará em pânico e dirá: 'não sei mais quem sou'. Com efeito, a pessoa que o indivíduo foi está para ser substituída pela pessoa que será. A primeira deve morrer. O indivíduo é intimado psicologicamente a morrer para o velho eu para que o novo possa nascer. Essa morte e renascimento não é um fim em si mesmo; é uma transição.
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Muito antes de uma crise os indícios e os sintomas já estão presentes: a depressão reprimida, o abuso do álcool, o uso da maconha para intensificar o ato sexual, casos amorosos, constantes mudanças de emprego e assim por diante.
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Reconhecer a inevitabilidade da mudança e seguir o seu fluxo é uma sabedoria sutil e necessária. Mas a nossa tendência é resistir à destruição daquilo que conseguimos realizar.

Existem na vida 4 fases principais:
1) a primeira infância, de dependência física e psicológica dos pais (eixo dos pais);
2) a puberdade, a adolescência e a primeira fase adulta,  onde o jovem deixa os pais, ingressa no mundo maior e luta pela sobrevivência (seria a primeira idade adulta, eixo do mundo);
3) a vida adulta, com as respectivas vivências, quando as projeções se dissolvem, trazendo a sensação de traição, de fracasso das expectativas, do vazio e da perda de significado. Aí vem a crise da meia idade, mas é exatamente quando a pessoa tem a oportunidade de se tornar um indivíduo (eixo do ego ligado ao Si-mesmo); e
4) a última fase, com a perspectiva da mortalidade,  ligando a pessoa ao cosmos, a Deus (eixo da transcendência).

Na passagem do meio, na fase 3, a erosão das projeções e das expectativas (casamento, par romântico, paternidade, maternidade, carreira...) é quase sempre dolorosa mas é um pré requisito do autoconhecimento. O mais difícil é ter confiança de que a nossa psique se revelará suficiente para curar a si mesma.

 É extremante difícil para aquele que está sofrendo muito, na noite escura da alma, aceitar que a sua dor é boa para ele, que é um sinal de que existe um caminho a uma vida mais abundante e significativa. A neurose, segundo Jung, é o sofrimento que não descobriu o seu significado.

Um dos choques mais violentos da passagem do meio é o colapso do nosso contrato tácito com o universo - a suposição de que se agirmos corretamente, se nossas intenções forem boas e sinceras, as coisas darão certo. Na verdade, nós não estamos no controle da vida. Isso é o colapso do ego.

É preciso muita coragem para dizermos que o que está errado no mundo está errado em nós, que o que está errado no casamento está errado em nós, e assim por diante.

Nada contém um potencial maior para a dor do desapontamento na meia-idade do que uma longa intimidade como a do casamento. Tudo indica que as uniões baseadas em necessidades práticas têm probabilidade maior de durar do que as fundamentadas em expectativas românticas e projeções mútuas. No relacionamento nós projetamos no outro tudo o que não experimentamos conscientemente de nós mesmos (anima e animus). Em outras palavras, nos apaixonamos pelas nossas partes que estão faltando.  A vida em comum, porém, desgasta impiedosamente as projeções.

Todos os relacionamentos são indicativos do estado de nossa vida interior, e nenhum relacionamento pode ser melhor do que o nosso relacionamento com o nosso próprio inconsciente. Num relacionamento maduro precisamos ser capazes de dizer: "ninguém pode me dar o que eu quero ou preciso, profundamente. Somente eu posso fazer isso. Mas eu posso festejar e investir no relacionamento pelo  que ele tem a oferecer". E o que ele tem de bom é companheirismo, respeito, apoio mútuo e a dialética dos opostos.
O homem, durante a passagem do meio, precisa voltar a ser criança, enfrentar o medo mascarado pelo poder e fazer novamente as seguintes perguntas, bem simples: 'o que eu quero', 'o que eu sinto', 'o que eu preciso fazer para sentir-me bem comigo'.
As mulheres, analogamente, estão impotentes com a sua força natural corroída por vozes interiores de negatividade.
Os casos amorosos (traições) são seguramente portadores de projeções, anima e animus, renovados.
O poder do caso amoroso na meia-idade reside na atração magnética do retorno à exuberância da primeira idade adulta. O homem ou a mulher que tem um desenvolvimento inadequado da anima-animus se sentem atraídos por mulheres ou homens que se encontram no mesmo nível. Homem procura normalmente uma mulher mais  jovem, e a mulher um homem mais maduro.
Conheci alguns casamentos chamados abertos que, sem exceção, fracassaram no final, especialmente porque existem os sentimentos. Se a metáfora do poliedro faz sentido, ela vale para amizades múltiplas, porém sem atravessar a fronteira sexual.
Nos relacionamentos, nada pode ser realizado sem um enorme risco, pois aventuramos numa terra desconhecida margeada pelo medo. Se eu tiver sido traído por um dos pais, terei muita dificuldade para confiar nos outros e, por conseguinte, arriscar envolver-me  num relacionamento. Escolherei errado desde o princípio. Se eu não tiver tido o meu valor confirmado, terei medo de fracassar e fugirei do sucesso.

Em todo relacionamento deveremos perguntar: ' o que estou esperando que esta pessoa faça e que eu mesmo deveria fazer? '.
O encontro consciente com a sombra na meia-idade é fundamental, pois ela estará atuando de qualquer forma. E por mais doloroso que seja, o encontro com a sombra restabelece a  ligação com a nossa qualidade humana.
Para empreendermos todo o projeto de amadurecimento e a passagem do meio, a individuação, existe uma série de atitudes e práticas que podem facilitar esse processo, como:

. ir da solidão à solitude, que é o estado da alma que nos permite alcançar a sensação de união com nós mesmos;
. honrar as perdas (pais, filhos, cônjuges, empregos) e recuperar a energia para o estágio seguinte;
. enfrentar os nossos medos;
. meditar;
. perguntar à nossa criança espontânea e saudável o que ela deseja (expressar criatividade, talento, práticas, dança, divertimento, etc.);
. descobrir a nossa paixão, o que nos atrai em direção à vida e à nossa própria natureza, plenamente.

O inimigo é o medo. Na meia-idade a permissão deve ser agarrada e não solicitada.

Quando o navio da passagem do meio se agitar no pântano, precisamos perguntar: Qual é o significado disto? O que a minha psique está tentando me dizer? O que devo fazer a respeito?'

Por que queremos permanecer jovens? A resposta é clara e imediata: não queremos assumir a vida como um desenvolvimento e sim como uma fixação, que não estamos dispostos a encará-la como uma série de mortes e renascimentos.

É perfeitamente natural que nos sintamos angustiados com a diminuição da energia e a ruína de todo aquilo que nos esforçamos para assegurar. Mas se for verdade que os deuses intentam o que a natureza sabe, precisamos aquiescer à sabedoria do processo.

Sabemos que sobrevivemos à passagem do meio quando não mais nos agarramos a quem éramos antes, não mais buscamos a fama, a fortuna ou a aparência da juventude.

Deslocamos do conhecimento da mente para a sabedoria do coração.

 Nunca chegaremos o dia em que finalmente conseguiremos explicar toda a jornada.

Somos apenas chamados a vivê-la o mais conscientemente possível."

Ufa! Hiper dose de auto-responsabilização.

Estamos dispostos a enfrentar essa passagem? Eu estou tentando!

5 comentários:

  1. Muito bom. Excelentes reflexões para ultrapassarmos a passagem do meio. Parabéns, querido Arnaldo.

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  2. Muito bom. Excelentes reflexões para ultrapassarmos a passagem do meio. Parabéns, querido Arnaldo.

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  3. Belo resumo, amigo Arnaldo.
    Sem dúvida, grandes desafios em nossa jornada!
    Abração.

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  4. Arnaldo, apesar de seu Blog estar direcionado aos homens, seus textos têm me proporcionado ótimas reflexões. Nós mulheres também nos deparamos com as perdas e medos na "passagem do meio". Parabéns!

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