segunda-feira, 12 de março de 2018

Quer viver? Então se emocione!


Viver e sentir são uma coisa só.

Será?

Quando sentimos as emoções “positivas” que nos evocam alegria e felicidade é tão bom, não?

Claro!

Mas quando algo nos puxa para baixo e sentimos tristeza, raiva ou medo a tendência automática da maioria de nós qual é?

Simplesmente sair pela tangente e tentarmos evitar as dores ou o sofrimento que aquilo nos traz.

E não raras vezes imaginamos que tais emoções são inconvenientes e que se as manifestarmos o mundo poderá nos prejudicar ou castigar.

E isso de alguma forma é verdade, mas não pelos motivos que acreditamos.

E por que isso ocorre?

Desde crianças temos como meta fundamental alcançar a felicidade em tudo que fazemos, como um corolário de vida. A partir dessa crença, a nossa principal luta passa a ser a de evitar a infelicidade sob quaisquer circunstâncias.

E isso cria a primeira conclusão equivocada: “se eu não sentir, não vou ser infeliz”.

Agindo assim, e como acontece numa prótese dentária por exemplo, não sentiremos dores buscando uma anestesia. Mas também embotamos a capacidade de sentir felicidade e prazer. A anestesia física funciona enquanto estamos sofrendo algum procedimento no corpo tangível, mas depois ela passa. A anestesia emocional tem os seus limites e a dor que foi evitada infelizmente permanece em nossos subterrâneos e voltará à tona em algum momento.

Assim, a médio e longo prazo não evitamos a temida infelicidade!

O objetivo inicial evidentemente é não sentir as emoções negativas, mas infelizmente esse mandamento acaba também nos afastando das emoções positivas, pois a energia vital de entrega ou encapsulamento tem a mesma natureza.

Todos sabemos que no mundo dos sentimentos e das emoções nós experimentamos o bom e o mau, o feliz e o infeliz, o prazer e a dor. E isso nos toca profundamente, nos faz vibrar a alma.

Já ao contrário, em nosso mundo exclusivamente racional a mente é a chefe que tenta autocraticamente governar a tudo e a todos, ficando a uma distância prudente das emoções. Pode nos proteger muitas vezes e nos auxiliar em circunstâncias difíceis e operacionais, mas isso em algumas situações acaba nos afastando da ... vida!

E o que é a vida?

É experienciar! Passar pelos altos e baixos próprios dessa condição do ser humano. Cada situação, em sua profunda dimensão terrena de luz e sombra. A caminho da evolução!

Na prática: nos alegrarmos e ficarmos tristes às vezes; termos medo de um desafio e o superarmos com coragem e amorosidade; chorarmos por uma separação dolorida e mais tarde rirmos descontraídos de nós mesmos.

Enfim,  darmos o passo corajoso e adequado de viver até o fim as emoções ditas negativas, a fim de nos trazer a oportunidade de crescer e amadurecer.

Entender que as dores são transitórias e que temos condições de suportá-las é o primeiro e fundamental passo. Para amadurecermos precisamos passar também pelos períodos de transição. E aí fatalmente cometeremos erros.

O erro tem um caráter pedagógico e quem os evita fica sem a aprendizagem necessária.

A amarga dor do isolamento, da solidão, o torturante sentimento de ter atravessado a vida sem passar pelos altos e baixos, sem se desenvolver até o máximo e o melhor possível, é o resultado dessa fuga acovardada, dessa solução errada.

Em outras palavras, com essa fuga não vivemos a vida plenamente.

Mas então devemos buscar inocentemente as emoções negativas sob quaisquer circunstâncias?

Calma!

Algumas pessoas muito fragilizadas física e emocionalmente não têm condições de encarar isso de frente, pelo menos não de uma vez e sem uma preparação cuidadosa.

E também devemos considerar que muitas emoções podem ser de fato destrutivas e trazem inequívocas desvantagens para nós e os outros. 

O principal erro reside no pensamento equivocado de que estarmos conscientes dos sentimentos e transformá-los em ações concretas é a mesma coisa.

Precisamos separar o joio do trigo.

De forma construtiva, devemos deixar fluir internamente e expressar os sentimentos no lugar certo e com as pessoas certas. Não porém de forma destrutiva, quando imprudentemente deixamos tudo sair do controle, não escolhendo a meta certa, o lugar certo, as pessoas certas.

Numa situação e na outra, trazer para a consciência. E sustentar!

No fundo, o medo de não conseguirmos controlar as emoções negativas e sofrermos não se deve tanto à existência delas mas sim à falta de aceitação da realidade, do mundo como ele é e não como nós o idealizamos, imaturamente.

Com isso, estaremos mais aptos a nos emocionar.

E a viver, portanto!



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Nota: Este texto foi inspirado nos ensinamentos do Pathwork, de onde foi também extraído o pensamento abaixo, resumidamente:

“O medo não é real. Ele é uma ilusão, mas precisamos passar por ele e vivenciá-lo. Através do portal de sentir sua fraqueza reside a sua força; através do portal de sentir a sua dor reside seu prazer e alegria; através do portal de sentir o seu medo reside sua segurança e proteção; através do portal de sentir sua solidão reside sua capacidade de realização, amor e companheirismo; através do portal de sentir seu ódio reside sua capacidade para amar; através do portal de sentir sua desesperança reside a verdadeira esperança fundamentada; através do portal de aceitar as carências da infância reside a realização agora“.



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