terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Ser realista ajuda ou atrapalha? 

Depende!

Pode nos trazer a verdade ou nos levar ao pessimismo e à negatividade.

O filme "Lucky", lançado em 2017 e dirigido por John Carrol Lynch, me trouxe essa reflexão: um idoso de 90 anos, mal humorado, sistemático e sem família, que vive isolado numa minúscula e monótona cidade do interior dos Estados Unidos, vê com relutância aproximar o fim dos seus dias.

Ele em dado momento dá uma guinada no seu comportamento e passa a aceitar a vida e a morte com mais leveza, realisticamente. A receita dele? Simples: aproveitar a existência como ela se apresenta!

E o que o fez mudar? A razão principal foi ouvir de um ex-combatente de guerra (como ele mesmo havia sido) que a sua vida tinha se transformado quando presenciou anos antes uma criança correndo entre escombros no meio de uma batalha e sorrindo estoicamente aguardando o seu destino de morte. Ela, segundo soube depois, era de uma comunidade budista desapegada das coisas materiais.

Creio que o "nosso herói", ao comparar o sorriso de uma criança frente à morte e a sua vida taciturna desprezando a pouca vida que lhe restava, foi tocado enfim no coração.

Cada um de nós certamente tem um ponto emocional qualquer, tipo um calcanhar de Aquiles que, uma vez sensibilizado, nos abre a possibilidade de uma grande transformação, para o bem ou para o mal.

No sentido positivo, perde-se um pouco de poesia mas ganha-se maturidade. Faz balançar expectativas mas reorienta ações. Arquiva projetos mas torna mais exequível a vida. Em resumo, desce o véu das ilusões e nos aproxima da verdade!

E no sentido negativo, ser realista (ou interpretar a vida contra o fluxo da Existência) pode atrapalhar? Sim, é possível, se tivermos autopiedade que requeira nutrição. Sim, se quisermos manter ilusões acalentadas desde crianças. Sim, se o mundo ideal imaginado por nós desmoronar e não vislumbrarmos alternativas.

Um relacionamento tóxico que termina pode nos levar a uma depressão caso tenhamos saudade da codependência, por exemplo. Ou, se formos realistas e entendermos que o ciclo se encerrou, podemos experimentar uma nova etapa de descobertas e possíveis novos amores.

Uma proposta tentadora de novo emprego pode nos balançar e estressar pela possibilidade de sairmos da zona de conforto. Ou trazer um fôlego novo à nossa vida estagnada.

Um corpo fora dos padrões estéticos invejados pode nos escravizar em academias e clínicas de beleza e nos cegar para as coisas importantes da vida. Ou nos fazer aceitar a genética familiar e a perda inexorável da estampa com o avanço da idade, compensando com outros talentos que certamente todos temos.

Enfim, poderíamos simplificar e dizer que realismo é a atitude concreta de encararmos os fatos como são e nos adequarmos a eles da melhor forma possível.

Ampliando essa perspectiva, o ato de sermos realistas é uma pré- condição para praticarmos o que Jesus pregou: "conheceis a verdade e a verdade vos libertará".

E a verdade sempre ajuda, ainda que nos traga algum sofrimento!

Para nossa reflexão: em seu último filme, o ator Harry Dean Stanton, que foi o ator principal do filme Lucky, faleceu em setembro de 2017 com 91 anos.

 Sorrindo, será?

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