domingo, 4 de abril de 2021

O mito de Sísifo, Albert Camus e Nitzsche

  Na mitologia grega Sísifo era considerado o mais astuto dos mortais e por diversas vezes enganou os deuses. 

 Ele morreu de velhice e Hermes, o condutor das almas para o Além, decidiu imputar-lhe um duro castigo, pior que a morte: Sísifo foi condenado para todo o sempre a empurrar uma pedra até ao alto de uma montanha, caindo a pedra invariavelmente sempre que o topo era atingido, recomeçando o ciclo. 

 Por esse motivo, a expressão "trabalho de Sísifo" passou a ser empregada para denotar qualquer tarefa que envolva esforços longos, repetitivos e inevitavelmente fadados ao fracasso. 

 O mito de Sísifo inspirou um ensaio filosófico escrito pelo franco-argelino Albert Camus, em 1941: para ele o homem vive sua existência em busca de sua essência, do seu sentido, e encontra um mundo desconexo, ininteligível. 

 Para Camus, a solução em não encontrar um sentido não deveria ser o suicídio, mas sim a revolta. Naquele ensaio ele introduziu a sua filosofia do absurdo. 

 Essa visão digamos niilista e desesperançosa pode ser contraposta por um outro filósofo ainda mais polêmico, Friedrich Nietzsche que, surpreendentemente para muitos, traz nesse particular um ponto de vista até positivo e encorajador. Ele fala do amor fati. 

Amor fati é uma expressão latina que significa "amor ao destino" e no estoicismo e na filosofia de Nietzsche trata-se de aceitação integral da vida e do destino humano, mesmo em seus aspectos mais cruéis e dolorosos. A aceitação que só um espírito superior seria capaz. 

 Segundo Nietzsche, feliz é o homem cujo júbilo não vem pela conquista mas sim pelo que vivencia na vida como ela é. Amor ao fato do estar vivo, pois o amor fati é o amor ao destino, seja ele qual for. Em Gaia Ciência Nietzsche escreveu: " Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas. Não quero fazer guerra ao que é feio, não quero acusar, nem mesmo acusar os acusadores. Que a minha única negação seja desviar o olhar. E tudo somado e em suma: quero ser algum dia apenas alguém que diz Sim". 

O amor fati de Nietzsche representa a plena aceitação da imanência, num mundo onde "Deus estaria morto". 

Assim, para Nietzsche, se não existe nada além desta existência, há de se concluir que apenas ela merece o nosso amor. 

 Entre as visões de Camus e Nietzsche qual delas lhe parece corresponder ao que você acredita e vivencia? 

 A vida teria algum sentido ou é apenas expressão do absurdo? 

E a espiritualidade, ligada ou não a alguma religião ou tradição filosófica, traz a você outra perspectiva? 

 Livre pensar! Livre viver!

3 comentários:

  1. Grande Arnaldo! Que bom que postou no blog novamente!! Fico com a aceitação de que tudo está certo do jeito que é! A existência provê tudo e a mim cabe aceitar apenas! ❤️🙏

    ResponderExcluir
  2. Me desafio continuamente a ter aceitação, não é fácil, desapegar do controle de querer do meu jeito. Este conflito traz sofrimentos. Mas a aceitação vai ocorrendo com passar do tempo e trazendo leveza a vida!
    Grata pela reflexão!

    ResponderExcluir