"Existe em nós
uma tendência de querer agradar a nós, aos outros e à moral de nossa cultura.
Com isso vamos gradativamente nos perdendo de nós mesmos." . Nilton Bonder, "A alma imoral"
De forma realista, em alguma medida somos todos sagrados e profanos, santos e pecadores.
Pudicos mas também devassos!
Raramente revelamos o nosso
lado oculto, comumente condenável. Isso
vale para toda a nossa “sombra”, aí incluídas a raiva, o medo, a luxúria, o egoísmo, o orgulho,
a intolerância. Dependendo da
personalidade de cada um, tais facetas ou “defeitos” se mostram aqui e acolá apenas quando as circunstâncias nos favorecem ou estão
fugindo ao nosso controle, quando a dissimulação, a mentira e a manipulação parecem não
mais funcionar. A "sombra" também abriga atributos positivos, que até nós desconhecemos.
No mundo das dualidades, todas essas particularidades humanas existem e coexistem. O nosso caminho preferido, porém, é o de agirmos como atores no teatro da vida e usarmos uma “fantasia” que supostamente nos protege e permite conviver socialmente.
Essa fantasia é construída por nós de forma
consciente e inconsciente na primeira infância. Funciona muitas vezes, por isso nos apegamos a ela . Mas essa
ferramenta não é sempre “operacional” pois provavelmente em algum momento vai gerar conflitos internos
e externos que mostram a nossa falsidade. Com o passar do tempo, essa farsa vai ficando
insustentável e nos distanciando de nossa essência.
O efeito perverso acontece quando reprimimos nossos desejos e
necessidades para mantermos situações supostamente convenientes. Como consequência, traímos a nós mesmos e aos outros.
Desarmar as armadilhas autoimpostas faz bem para a teia vital.
Despoluir a nossa vida dos receituários socialmente desejáveis ou das cartilhas de autoajuda nos tornará mais leves, lépidos e com mais foco
na auto responsabilidade durante a jornada existencial. Com menos expectativas.
Aceitar que todos somos falíveis e
contraditórios talvez seja um primeiro passo para vivermos com mais realismo e maturidade
emocional.
Em resumo, parece bem útil estancarmos nossa ingenuidade e pararmos
de olhar o mundo sob a perspectiva dos bons ou maus, certos ou errados, morais
ou imorais, sagrados ou profanos. Nesta dimensão terrena
-- e ainda longe de uma iluminação que não virá
tão cedo -- somos tudo isso.
Uma coisa e
outra. Juntas e misturadas !
Excelente, amigo Arnaldo. Muito pertinente a reflexão sobre as dualidades que estão em cada um de nós. Parabéns!
ResponderExcluirDattoli