quarta-feira, 8 de junho de 2016

Fazemos parte de um rebanho?


"Brian,  furioso por ter sido proclamado o Messias e ser acompanhado aonde quer que fosse por uma horda de adoradores, em vão fez o possível para convencer os seus seguidores a pararem de se comportar como um rebanho de ovelhas e se dispersarem.
'Todos vocês são indivíduos' gritou.
'Nós somos indivíduos!' respondeu devidamente em uníssono o coro dos devotos.
Só uma longínqua voz solitária objetou: ' Eu não sou...'
Brian tentou outro argumento: 'Vocês têm de ser diferentes!' gritou.
'Sim, todos nós somos diferentes' concordou o coro, extasiado.
Mais uma vez, só uma voz contestou: 'Eu não sou...'
Ouvindo isso, a multidão olhou em volta com irritação, ávida por linchar o dissidente assim que o encontrasse em meio à massa de pessoas parecidas." (*)

Nenhum de nós em sã consciência quer ser linchado. Somos iguais querendo ser diferentes. Ou queremos ser iguais para não sermos diferentes.

No fundo, numa ou noutra estratégia o objetivo é sempre o mesmo: sermos aceitos, valorizados e amados.

Especialmente por aqueles que nos são caros, os nossos pais e, por substituição,  os nossos parceiros afetivos ou quem mais se aproxima.

No fundo, somos ovelhas sequiosas de amor, por mais que ostentemos grandes egos de poder e independência.

E o que tem de errado nisso, já que muitas pessoas buscam cumprir essa fórmula  e se sentem aparentemente felizes?

Embora ser amado e valorizado seja algo saudável e mesmo legítimo, o excesso de dependência disso é que nos torna vulneráveis.  As crises emocionais e a vida "normótica" estão aí pra provar!

Essa dualidade básica entre o "eu" e o "todo", entre o viver pra fora e o viver pra si, faz de nossa existência uma eterna busca de algo que não sabemos bem o quê.

Talvez a  grande falta seja a de nossa própria essência, aquela que, quando conectada,  nos traz um sentimento de paz independentemente das chuvas e trovoadas externas.

 Voltando à história do Brian, se abstrairmos do ego e das carências infantis poderemos afirmar que não precisamos ser seguidos por ninguém nem tampouco necessitamos seguir alguém.

Nem messias nem ovelhas. Apenas nós mesmos!

Me pergunto em que ponta da corda estou: seguindo com o rebanho (igual) ou querendo ser um novo messias (diferente)?

 Penso que ainda transito mais como parte do rebanho, irrequieto e insatisfeito. Talvez com alguns vislumbres de consciência.

Quanto à minha sombra, confesso  que tenho alguma raiva contida dos meus iguais e também uma dose de inveja dos diferentes.

Dos primeiros, por serem tão contidos quanto eu. Dos segundos, por terem conseguido sair da mediocridade.

E você, onde está, seguindo ou sendo seguido pelo rebanho?



(*) Brian é o herói cujo nome compõe o título do filme da série Monty Python, citado no livro "Vida líquida" de Zygmunt Bauman.

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